quarta-feira, 19 de março de 2008
Há um princípio de magia
Entre os obstáculos do coração
Que prende alegremente
Entre uma noite que não morre
E uma noite a ser descartada
Como um pacote de natal.
Há um princípio de ironia
No prender com carinho
Os pensamentos mais secretos
E encontrar os já descobertos
E eu era pra falar
Sou eu que os tenho emprestado
Quanta coisas que
você não sabe de mim
Quanta coisas que
você não pode saber
Quanta coisas a ser trazidas
na viagem
Junto...
Há um princípio de alegria
Entre os obstáculos do coração
Que eu quero merecer
Também enquanto olho o mar
Enquanto deixo naufragar
Um pensamento ridículo
Quanta coisas que
você não sabe de mim
Quanta coisas que
você não pode saber
Quanta coisas a ser trazidas
na viagem
Junto...
Quanta coisas que
você não sabe de mim
Quantas coisas precisa merecer
Quantas coisas lançadas na viagem
Junto...
Há um princípio de energia
Que me faz balançar
Entre meu dizer e o meu fazer
e sentir fazer confusão
Faz confusão ao caminhar
Entre os obstáculos do coração
Quanta coisas que
você não sabe de mim
Quanta coisas que
você não pode saber
Quanta coisas a ser trazidas
na viagem
Junto...
Com certeza foi ironia. E uma das grandes. Há dias eu estava com essa música na cabeça. Sabem como é? Você acorda pensando em uma música e se pega ao longo do dia cantando baixinho?
Parece que sem querer estava predizendo o que estava para acontecer.
Essa manhã recebi o meu presente de Páscoa adiantado, o Consulado me ligou perguntando quando eu posso comparecer lá para dar entrada no passaporte italiano.
É isso aí, meu processo de cidadania foi aprovado. Eles até enviaram uma cartinha, mas como não tem ninguém lá em casa, no interior, nem estava sabendo. Sei que ainda demora um bom tempo para que o passaporte fique pronto, mas a sensação que eu fiquei é de que agora sou livre.
Quando eu desliguei o telefone se passou toda uma vida na minha frente, a minha vida.
Chorei...chorei muito.
Lembrei do início do meu namoro, quando só havia incertezas. Os planos, o desespero por achar que eu teria que cruzar por caminhos tortuosos para pisar na Holanda livre, sem ser uma criminosa. A revolta por ver Maximas que sem esforço algum estavam lá. Ver o esnobismo de brasileiras "legais" casadas com holandeses que só faltavam acender uma fogueira em praça pública para queimar as brasileiras que pensavam em se mudar ilegalmente.
Lembrei dos anos difíceis onde eu e Be nos encontrávamos no máximo 2 vezes por ano, com a grana contada. Os sacrifícios feitos do lado de cá e do lado de lá, mas que no final das contas renderam frutos. A certeza do que queremos, a batalha que travamos diariamente para ficarmos juntos, uma casa em Brecht, um apartamento bem legal aqui e a companhia mais constante um do outro. Algumas coisas mudaram por aqui, coisas que com o tempo eu espero contar. Mudanças ótimas, de verdade. O fato é que Be estará cada vez mais presente aqui na terrinha.
O desespero inicial de achar que ficarmos definitivamente juntos era um sonho distante passou. A presença frequente dele aqui me faz ver que é real, Be é o meu mundo e é por ele que eu luto.
Me dei um prazo, 3 anos. É o tempo para decidirmos definitivamente se eu vou ou ele vem. No auge dos meus 20 e tantos anos, descobri que ainda há muito a sonhar, ainda há muito a viver.
Não há como negar que a distância dói, a saudade as vezes sufoca. Porém, quero focalizar mais no que de positivo veio disso, um relacionamento que pode por vezes balançar, mas no final das contas permanece duro feito rocha. Estou aprendendo a caminhar em vez de correr.
Mas agora eu posso me permitir sonhar. Não é mais um documento que vai fazer a diferença entre ser ou não feliz. Se amanhã eu resolver largar tudo e sair correndo, vou poder.
Muita coisa ainda vai rolar nesse meio tempo, afinal:
" Quante cose da portare
nel viaggio
Insieme..."
E não importa se a sua páscoa vai ser de ovos de coelhos ou de galinhas, desejo que ela seja bem feliz!
Feliz Páscoa!
Joyeuses Pâques!
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