Maneiras

sexta-feira, 7 de março de 2008

"Se eu quiser fumar eu fumo, se eu quiser beber eu bebo
Eu pago tudo que eu consumo com o suor do meu emprego
Confusão eu não arrumo, mas também não peço arrego
Eu um dia me aprumo, pois tenho fé no meu apego
Eu só posso ter chamego, com quem me faz cafuné
Como o vampiro e o morcego é o homem e a mulher
O meu linguajar é nato, eu não estou falando grego
Eu tenho amores e amigos de fato,
Nos lugares onde eu chego
Eu estou descontraído, não que eu tivesse bebido
Nem que eu tivesse fumado pra falar de vida alheia
Mas digo sinceramente, na vida, a coisa mais feia
É gente que vive chorando de barriga cheia"


Com essa música cantada por Zeca Pagodinho talvez esteja selando a minha volta ao mundo bloguístico.
Digo talvez porque ainda não tenho certeza se é uma volta de verdade.
Tantas coisas para falar, tantas coisas para compartilhar, e sabem o quê? só de sentar a bunda na frente do pc eu fico meio sem vontade. Não de contar, porque eu acredito realmente que a minha pausa por aqui tenha arrancado saudades sinceras em algumas pessoas. E se for em pelo menos uma única pessoa já acredito que tenha valido a pena.
A questão foram as circunstâncias em que isso tudo se passou.
Vou fazer um pequeno flashback. Por favor, me desculpem os menos interessados no meu monólogo tedioso, mas eu preciso disso. Aliás, daqui para frente será assim: mais "eu" e menos "os outros".
Depois de um tempo na blogosfera as pessoas costumam sentar e dar uma olhada nos seus posts passados. A maioria das pessoas olha para trás e tira conclusões do quanto amadureceu, do quanto melhorou, se dá conta de que os problemas passados ficaram no passado e aquela coisa toda.
É triste afirmar isso, mas quando eu fiz isso nesse blog eu fiquei tremendamente decepcionada comigo mesma.
O meu primeiríssimo post falava sobre esse blog ser para mim, para meus relatos, sobre a minha vida. Quando eu olhei esse post eu tomei um choque. Fiquei desanimada por me dar conta de que a grande maioria dos posts estava recheada de minhas experiências, mas tinham doses enormes de explicações para os leitores sobre as minhas atitudes, sobre a minha vida.
Algo estava errado, não estava? Cadê aquela expectativa inicial sobre contar os meus relatos, sobre ser o meu blog? Esse blog acabou se tornando o blog para explicar as minhas atitudes.
A bola de neve foi aumentando a cada dia, não sem antes eu concluir o quanto algumas coisas aqui me faziam mal. A Agridoce não estava gastando o curto tempo que ela tinha na frente do pc para algo saudável, ela estava ingressando por caminhos cada vez mais tortuosos sobre o quanto é difícil não conseguirmos agradar a todos, sobre o quanto críticas maldosas alheias são capazes de ferir, de magoar. Não digo que eu sou santa, longe de mim. Acho inclusive que uma boa parcela sobre tudo que se passou na minha vida aqui na blogosfera seja realmente culpa minha. Culpada por não ser capaz de olhar algumas coisas que me desagradavam ou me magoavam e simplesmente rir. Naquele momento eu não era capaz daquilo, as críticas, as fofocas, magoavam sim. E a Agridoce, aquela que queria apenas relatar suas experiências, acabou se tornando a Agridoce que se defendia do veneno alheio e usava o seu próprio veneno para magoar também.
Não tardou para que, ao invés de usar o blog para compartilhar experiências, eu precisasse dar explicações sobre as minhas escolhas. Peraí? dar explicações para quem eu nem conheço? Algo estava errado, não estava?
Para finalizar, gradualmente, eu comecei a sentir, não necessariamente na pele, mas estava envolvida, com pessoas que se diziam amigas, pessoas que deixavam em blogs alheios, comentários cheios de apoio, comentários ensolarados. Mas bastava virar as costas, essas mesmas pessoas deixavam escorregar a máscara e mostravam a verdadeira face, que acreditem, não era nada bonita.
Por um tempo eu fiquei calada, apesar de magoada com a situação ficava na minha. Até que a dúvida veio por fim me atormentar. Que garantias eu tinha de que essas mesmas pessoas não estavam fazendo isso comigo também?
Enfim, saturou.
Por diversas vezes eu pensei em vir aqui e contar sobre o que estava se passando na minha vida. Sobre a doença da minha sogra, sobre a forma que Be quase me enlouqueceu e por pouco não houve uma separação, sobre as mudanças em minha vida profissional, sobre o quanto eu ando sobrecarregada, sobre as minhas férias maravilhosas depois da tormenta, sobre a minha afilhada que nasceu. Tanta coisa, mas tanta coisa mesmo, que tenho certeza que dariam relatos interessantes.
Mas sabem o quê? Toda vez que eu tinha um problema eu corria para o telefone ou para a casa de alguma amiga. Contava para a minha mãe, que estava sempre pronta a me aconselhar, com boas doses de cafuné no cabelo e com incontáveis taças de sorvete. Ou para alguma amiga, em noites memoráveis repletas de bom vinho, cerveja e até alguns cigarros. Pessoas que eu podia olhar nos olhos, que eu sabia que apenas iam me ouvir e me aconselhar. Pessoas para as quais não precisava me explicar.
E no final ainda tinha o Be, que mesmo entre "tapas e beijos" e "trancos e barrancos" estava lá, presente. Alguém tão formidável que não usaria as coisas que eu falava para fazer fofocas para os outros. Alguém que, mesmo sendo duro quando usa palavras para mostrar a melhor saida, era capaz de me fazer estremecer inteira com noites e mais noites fazendo amor.
Alguém aqui seria capaz disso? hahaha (desculpem a gargalhada)
Entendam uma coisa: não estou generalizando, porque tem muitas pessoas por aqui que me conquistaram, que me fizeram acreditar que amizade a distância é tão possível quanto amor a distância. A maioria das pessoas que eu encontrei aqui foram assim. Mas, nesse meu passado recente, eram aquelas poucas maçãs podres que me faziam tão relutante em voltar.
Em nenhum momento eu deixei de acompanhar os blogs das pessoas que eu tanto gosto. Não deixava comentários, lia quietinha, mas mandava boas doses de pensamentos positivos, me alegrava com a felicidade dessas pessoas ou incluía o nome dessas amigas na minha já extensa, listinha de preces. Por diversas vezes os dedinhos coçaram, mas eu pensava duas vezes e desistia de comentar. Por medo, por saber que os problemas dessas pessoas não se resolveriam com poucas palavras escritas por mim. Pode ser uma visão até bem pessimista, isso de pensar que não fazemos diferença, mas eu estou um pouco assim ultimamente.
Não quero dar opiniões na vida dos outros, não quero interferir ou ser aquela pessoa que obriga os outros a terem que explicar as suas escolhas. Não quero isso para os outros porque não quero isso na minha vida também.
Um pouco confuso, contraditório e até mesmo egoísta isso que eu falei? Pode até ser, mas é que eu ando assim, é como eu falei anteriormente, mais "eu" e menos "os outros".
Por que ter um blog então? Ainda não sei ao certo, talvez pela praticidade, talvez por aquela questão de massagem no ego de querer que alguém leia o que eu escrevi. Não sei. E estou satisfeita assim, sem saber ao certo. E se um "não sei" basta para mim, ele que seja suficiente para os outros também.
Tenho tantos relatos que quero fazer desse meu período de "férias". Acho que eles virão. Talvez bem poucas pessoas ainda passem por aqui. Mas eu não me importo. Se está bom para mim assim, isso que importa. Afinal, esse blog está oficialmente reaberto como sendo o MEU blog. Meu e de mais ninguém.
Agora deixa eu ir lá, que hoje é sexta-feira e "se eu quiser fumar eu fumo, se eu quiser beber eu bebo"
Até outro dia.

 
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