domingo, 1 de abril de 2007
Número 1
O perfil da fulana:
“ Ralei muito, gastei muito dinheiro em cursos para chegar aonde eu cheguei. Tenho um homem que ganha muitíssimo bem, se eu quisesse, eu não precisava trabalhar.
Aliás, eu não gosto de gente com síndrome de pobre que ganhou alguma coisa na vida. Detesto deslumbramento, acho breguinha. Eu sou o máximo, não precisei ser como as coitadas que chegam em um país estrangeiro e aceitam trabalhar em empregos menos nobres, como serem arquivistas.
Eu sou chique, eu tenho crasse.
Até tenho alguns amigos, mas são pessoas com a tal síndrome de pobre, gente exagerada, que passou por maus bocados na vida e agora que está em uma situação melhorzinha gosta de exagerar, se acham AS EXECUTIVAS, fingindo ser mais o que são, e usando o carrão da empresa como se fossem delas.
Eu, ao contrário, não sinto necessidade de falar sobre como o meu marido ganha bem, nunca tive necessidade de fazer carreira, só depois de um tempo, porque eu enchi o saco de ficar em casa.
Hoje, eu sou A EXECUTIVA. As pessoas me odeiam por isso, é a inveja, sabem?
Eu sou uma pessoa fina. Eu sou uma conhecedora íntima do mundo, eu sei o que é certo e o que é errado. Impossível ser feliz sendo dona-de-casa, odeio pessoas que fazem barraco, porque eu sou phena, meu bem ;)
Não gosto de pessoas simples, simplórias.
Abomino brasileiras que chegam em outro país e logo engravidam, nossa, como tem gringo bobo no mundo.
Eu sou muito chique, escrevo nesse blog, porque é um favor que eu faço a vocês, pessoas bregas e simples. Nem sei porque eu escrevo, é óbvio que se eu for irônica vocês serão tão simples e ignorantes que não entenderão a mensagem que eu estou querendo passar.
Vocês precisam entender, eu não me acho o máximo, eu sou o máximo. É difícil conviver com isso, e é por esse motivo que eu acabo despertando tanta intriga e inveja por onde eu passo, seja aqui no mundo bloguístico ou seja no meu emprego super pop em uma multi-nacional
Detesto brasileiros e brasilidades. Detesto a ignorância brasileira.
Ao mesmo tempo, detesto a Holanda, detesto os altos impostos. Fico verde de raiva pensando que o meu tão nobre e fino dinheiro vai para impostos que ajudam essa gente brega e pobre que precisa dos programas assistenciais do governo.
Nos últimos tempos, descobri que eu odeio também portugueses. Essa gente burra, nem sei como e porque entraram na União Européia, paizinho chinfrim.
Aliás, eu não gosto de muita coisa, lá vai a lista (assim vocês saberão como tornar as suas vidas menos infelizes):
Não gosto de donas-de-casa, não gosto de calças gang, não gosto de quem escreve em caps lock, não gosto de pessoas que querem uma vida simples,não gosto de pessoas que dizem ter mais dinheiro que eu, não gosto de pessoas em empregos simplórios, não gosto dos meus antigos colegas de trabalho (e nem dos novos), não gosto de quem chega em outro país e logo engravida, em suma, não gosto de gente feliz.
Eu não comento nos blogs de ninguém, mas tenho um radar infalível para saber de todos os blogs e de suas medíocres vidas e aqui, no meu blog, eu dito as regras de como as suas miseráveis vidas devem ser.
Eu quase não tenho tempo para blogar, mas cedo, caridosamente, um pouco do meu tempo para mostrar aqui, para vocês, como eu sou a dona da verdade.
E não se atrevam a pensar diferente de mim, vocês estarão sujeitos à minha ira. Aliás, críticas a mim só servem para isso, para mostrar que vocês são pessoas baixas, eu já disse que detesto gente baixa?”
Vocês podem não acreditar, mas realmente tem gente que pensa assim...
E sinceramente, as primeiras impressões às vezes são corretas. Há um bom tempo atrás tinha escrito sobre isso, olhem aqui: http://agridoc.blogspot.com/2006/06/nem-tudo-que-reluz-ouro.html
Realmente, não me enganei.
Depois da primeira impressão, ainda tentei insistir para ver se valia a pena, mas não vale.
Acho que esse post é importante para exorcizar a carga de energias ruins que essa pessoa dissemina através do seu blog. Agora já exorcizei, bola para frente.
Portanto, seguindo o conselho da própria autora, deletei o link do blog e era isso. Minha vida continua, porque como diz a Eliecy, eu gosto de gente, e quero mais é ser feliz!
Número 2
Estou tendo um fim-de-semana bem legal.
Ontem pela manhã, uns colegas do escritório e eu fomos até uma vila aqui em Porto Alegre distribuir cestas de páscoa. Rimos um bocado com um colega nosso. Ele se vestiu de coelhão de Páscoa e foi engraçadíssimo o sufoco que ele passou dentro de uma roupa de pelúcia com um calor de 32 graus.
No início tivemos uma discordância. Alguns colegas queriam distribuir cestas básicas, e eu e mais umas colegas queríamos comprar chocolate.
Sei que talvez as cestas seriam mais úteis para as famílias, mas o chocolate ajuda a manter viva a esperança e a fantasia dessas crianças. E convenhamos, ter o básico como alimentação, casa, escola, saúde é maravilhoso, mas essas crianças tão castigadas também precisam sonhar.
Conversamos com um grupo de mães que desenvolvem projetos muito bacanas no bairro, como a confecção de biscoitos e pães caseiros. Além de aumentar a renda da família, elas estão conseguindo investir em outras coisas, como máquinas de costura. Assim, o que antes era um grupo de senhoras batendo de porta em porta para vender seus pãezinhos, agora já se tornou uma cooperativa, onde além de agência de emprego (elas cadastram domésticas, babás, auxiliar de obras, vigias), há uma pequena fábrica de pães e biscoitos e com as máquinas de costura recém adquiridas, vão poder dar cursos de corte e costura e montar um pequeno atelier.
Muito, mas muito legal!
Quando chegamos vimos tanta pobreza, que ficamos desanimados. Barracos feitos de papelão, madeira e plástico, famílias inteiras vivendo em condições de extrema pobreza. Dá um baque muito grande, você começa a questionar a sua vida, os seus problemas do dia-a-dia tão banais.
Gente, levantem as mãos aos céus se vocês moram em um local com saneamento, um lugar seguro onde a chuva e o medo de não ter o que comer não são os principais problemas da sua vida!
Uma coisa nessa nossa jornada me chamou a atenção: conversei com uma moça de 20 anos (mas que parecia ter menos), casada e mãe de 5 filhos. Ela pertencia àquela religião (que eu não sei o nome) que tem que usar saias e cabelo compridos. Poxa vida, 5 filhos. Não pode usar nenhum método anticoncepcional porque a Igreja dela proíbe (como a católica). Será que Deus quer isso mesmo das pessoas? Será que a vontade Divina é essa? que crianças venham ao mundo para sofrer, para passar fome? Eles falam em punição, em seguir as tais regras para que não sejam julgados e castigados por Deus.
Mas que Deus é esse? Deus é sabedoria, é compaixão. Não gosto de pensar em um Deus vingativo, cruel e que joga com as pessoas, querendo que crianças sofram, mães sofram e pais sofram.
E ontem a noite, quebrando a dieta, fomos a uma pizzaria, comi tanto e nem fiquei com consciência pesada por causa da dieta! Que feio!
E hoje de manhã está tão friozinho! Tá uma diliça! Preparei um café com leite para euzinha e estou aqui, olhando pela janela e vendo a chuva cair lá fora.
Já falei com Beibe, já tomei banho, me depilei e dei uma lavada na louça. Eu sou uma menina exemplar!
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