Deus, olhe para baixo...

sexta-feira, 28 de março de 2008

...e dê um pouco de paciência a essa pobre alma.

Algumas coisas lá no escritório têm me feito perder a cabeça.

Trabalho em uma área específica de finanças que além de cautela, é preciso passar confiança aos clientes. Todo o meu trabalho está baseado nisso, no cliente confiar na gente, confiar em mim e se sentir seguro para usar os nossos serviços.

Nossos clientes são toda a sorte de pessoas, de aposentados até empresários de grandes empresas, até as próprias grandes empresas.

Com a intenção de estreitar os vínculos entre a empresa e os clientes, e também para que esses investidores conheçam todos os detalhes de cada transação, sempre optamos por ter uma relação bem próxima com eles. Corpo-a-corpo mesmo. Nunca fomos adeptos de ter muita assessoria. Tenho uma secretária que, apesar de ser um pé no saco, me ajuda, e muito. Os clientes ficam satisfeitos assim, eles acham importante falar diretamente com os responsáveis pelas contas deles. Ponto final.

Só que no último mês surgiu (sabe-se lá de onde) uma tal especialista, contratada para diagnosticar eventuais problemas ou fraquezas e nos apresentar soluções.

Só que eu ando de saco muito cheio dessa mulher.

Ela não tem a mínima noção do que fazemos, só dá fora e se acha o ó do borogodó por nos fazer assistir as intermináveis palestrinhas dela enfeitadas com fru-frus, cheia de diagramas multicoloridos.

Conhecida de um dos nossos colegas, a fulana é uma tremenda filhinha de pai rico, que nunca soube o que é pegar no batente, sem noção alguma de leis trabalhistas. Sem noção alguma do que fazemos, sem noção alguma das idiotices que fala.

Big Boss, deslumbrado com a tal auditora, faz vistas grossas para a maioria das asneiras que ela fala. Acha importante que haja auditoria na empresa, mesmo que a auditoria não se importe com nada além de que o sapato esteja combinando com a bolsa.

Só que hoje foi a gota d’água. Depois de quase 1 hora e meia de falatório, ela veio com um dos seus brilhantes diagnósticos: cada um dos analistas ter mais 1 assessor, uma pessoa que se concentre na relação com os clientes enquanto nós, os pobre-coitados, teríamos mais tempo disponível para o trabalho pesado.

Na cabecinha de ervilha dela, fazendo isso a empresa poderia aumentar o número de clientes, já que nós não “perderíamos” tempo investindo em relacionamento, teria uma pessoa só para isso.

O que a infeliz não entende é que nem todo mundo vive de aparências como ela. Os clientes não querem assessores que tomem cafezinho e dêem tapinhas nas costas deles. Eles querem saber exatamente e de forma profunda o que está sendo feito com o dinheiro deles, coisa que um assessor furreca qualquer não vai ter condição de fazer. Todos os clientes mais importantes, sem exceção, têm um conhecimento amplo de economia e risco de mercado, porque eles investem pesado, e não querem investir para perder. Como um Zé Mané relações públicas vai deixar esse cliente satisfeito?

Na cabeça de gema de ovo dela, mais tempo disponível são mais contas para a empresa.

Na minha cabeça, menos tempo para me relacionar com os clientes são duas coisas: ou as contas diminuindo ou trabalho dobrado, porque, além de ganhar mais contas, vou ter que fazer o meu trabalho e o do assessor quando o cliente se negar a conversar apenas com ele.

Acho isso péssimo. Se estivesse no lugar do cliente, toda vez que quisessem que eu conversasse com o assessor, me sentiria diminuída, sem importância.

E como se não bastasse essa meleca toda, ela ainda nos “apresentou” os modelos de pelo menos meia dúzia de planilhas que ela desenvolveu para termos todo o tipo de controle que se pode imaginar. Só que o controle de tudo que é importante já se faz, e não vejo sentido em se perder mais tempo preenchendo duas vezes a mesma coisa. Um tipo de burocracia desnecessária que ao contrário de solucionar os nossos problemas apenas cria outros.

Tive vontade de mandá-la enfiar as planilhas naquele lugar!


Dica: até domingo, passagens aéreas para diversos lugares por 46 reais no site da Gol. Cheguei tarde demais para comprar para Maceió, mas em compensação, Be e eu iremos para Floripa por menos de 250 reais.

Agora deixa eu abrir a minha garrafa de champagne, porque afinal, eu mereço!


Alívio

quinta-feira, 27 de março de 2008

Paguei a última prestação do apartamento hoje. Nem tenho como definir a sensação de alívio que estou sentindo. Ainda falta pagar umas taxas residuais (que na minha opinião deveria ser chamado de roubalheira adicional), mas hoje me sinto em paz.


Acabei de voltar do cartório, estou aqui sentadinha olhando para a escritura. Conseguimos. É nosso e ninguém tasca.

Agora vamos em frente.

Tem algumas coisas que eu quero ainda fazer aqui, terminar a reforma do banheiro (isso já está virando uma lenda) e trocar o piso. Quando falo para as pessoas que quero trocar o piso, elas me olham como se eu fosse louca. Talvez eu seja mesmo. Trocar o piso vai dar uma sujeira infernal.

Mas é que esse laminado que colocaram aqui é um tanto quanto vagabundo. Várias tábuas já trocaram de cor por causa do sol, perto das janelas o piso está todo bicolor, um nojo. Mal colocado, você caminha sobre o piso e sente que ele está solto, deixaram frestas horrendas, um caos.

Arrumei o telefone de uma empreiteira que promete fazer todo o serviço, desde desmontar os móveis, colocar o piso, até trazer junto uma tia da limpeza para deixar tudo arrumadinho no final.

Dei uma olhada nos tipos de pisos. Estava com a idéia fixa de colocar um porcelanato no living em vez do laminado, mas o problema do porcelanato é sempre o mesmo, qualquer coisa ele fica manchado. Não tenho saco para investir na troca e daí a pouco descobrir que troquei 6 por meia dúzia.

Então acho que vai ser um laminado de marca melhor mesmo.

E agora vêm as opções, é um mais lindo que o outro.

Estou em dúvida entre o Ipê e o Carvalho rústico.






Ipê








Carvalho rústico








Nossa, minha cabecinha já está a milhão, fazendo um monte de planos.

Me dei um prazo de 3 meses para comprar um carro. Quando compramos o apartamento, dei o meu carro no negócio. Aliás, dei quase tudo, só não dei minha mãe porque ela é legalzinha demais.

Só que um carro faz falta. Principalmente quando começa o inverno ou quando eu fico no escritório até tarde, cansei de gastar fortunas com táxi. E também cansei de voltar para casa com os braços quase caindo de tanta sacola de mercado. Pra mim chega.

Só não tomo um porre hoje porque amanhã é sexta-feira e milhares de coisas me aguardam no escritório. Coisas que precisam de mim lúcida e sem ressaca. Mas amanhã, a noite é minha. Vou colocar uma boa garrafa de champagne no gelo e ficar até altas horas conversando com o Be. Afinal, a gente merece.

Daqui a 2 semanas Be está de volta, daí sim, a comemoração vai ser com tudo que temos direito.

Tantos sonhos, planos, devaneios, tanta coisa se passa pela minha cabeça. E no meio disso tudo ainda tenho os outros projetos futuros, os que não são propriamente meus, mas eu acabo abraçando por amor ao Be.

Dentre eles está comprar uma sala comercial aqui e um terreno. O terreno é o nosso devaneio em conjunto.

Terreno? Isso mesmo, um terreno. Mas não é um terreno em qualquer lugar. É praticamente a nossa Atlantis.

Sabe aqueles exercícios de Yoga que você faz relaxamento, abstraindo e se imaginando em um lugar especial?

Pois é, quando eu faço isso, me imagino no terreno!

Um fim-de-semana especial e cheio de sonhos para todos nós!


Casa nova

quarta-feira, 26 de março de 2008

Espero que vocês gostem na cara nova do blog. O grande barato do novo blogger é isso, você mesmo pode criar o seu template exclusivo. As tais caixinhas são ótimas, você escolhe cor, topo, tudo, uma maravilha. O único porém continua sendo o haloscan, impossível de ser instalado por aqui. Ou você consegue instalar e misteriosamente o topo do template some ou você deixa sem o haloscan. Por enquanto vou deixar assim, com os comentários do blogger mesmo.
Se alguém tiver a solução para instalar o haloscan sem perder o topo do template, dá um grito. Pelo que andei lendo pela net, muitas pessoas estão com o mesmo problema.
Fiz uma cópia do template antigo (que era lindo demais) que também, misteriosamente, sumiu do meu pc.
Pelos comentários antigos do haloscan, fiz a listinha dos blogs que eu visito. Mas se alguém passar por aqui e não tiver o nome na listinha, dá um grito que eu ajeito.
Agora deixa eu voltar ao trabalho.
Amanhã tenho novidade para contar por aqui.

Que pampa é essa que eu recebo agora?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Viajamos no feriado para o interior. A Dengo (é assim que a minha afilhada vai ser chamada aqui nesse humilde blog), ainda não conhecia a nossa família e achamos que era uma boa deixar a pobrezinha logo a par do que é realmente fazer parte de uma família de gringos doidos.

No sábado à tarde fui fazer umas compras no mercado (mamis estava fora de casa há muito tempo e papis, durante esses dias, ia para a casa de um tio diferente a cada dia filar o rango, então, não tinha quase nada em casa).

Na saída do mercado, tomei um susto quando o rapaz que estava carregando as sacolas até o carro me chamou. Era um colega de colégio do meu irmão. Conversamos um pouco e ele me contou sobre como andava a vida dele. Fiquei com aquilo na cabeça e fui embora.

Logo em seguida, fui fazer as unhas e outro susto: a manicure que me atendeu foi uma colega minha da oitava série, a Lisandra.

Lembro da Lisandra muito bem. Uma garota esperta, o caderno sempre caprichado, notas altas e super esforçada.

Fui para casa pensando naquilo.

Por mais que eles parecessem relativamente bem, confesso que foi um choque encontra-los. Um empacotador de mercado e uma manicure. Fiquei pensando nesses caminhos tortuosos que a vida nos reserva. Se passou um monte de coisas pela minha cabeça.

De forma alguma eu quero aqui depreciar o trabalho deles, mas eu achei triste demais.

Pensar no meu irmão e pensar no seu colega empacotador de mercado.

Pensar em mim e na ex-colega que virou manicure.

Não estou aqui questionando a dignidade da profissão deles nem a importância delas.

Mas caiamos na real. (Caiamos é correto?) Na Holanda eu até ia pensar: “Que é isso, Agri, eles tem relativamente a mesma qualidade de vida que as outras pessoas, os filhos deles estudarão em boas escolas, eles não vão passar necessidade, terão uma vida digna.”

Mas no Brasil?

Lisandra ainda largou uma pérola do tipo: “A situação por aqui não é das melhores, se eu fosse você já tinha largado tudo e ido embora para a Europa”. Na hora eu concordei com a cabeça e achei melhor não responder.

Como explicar que o meu emprego é um dos maiores motivos de eu não largar tudo e ir embora?

Como explicar para ela que, mesmo sendo em reais, eu tenho um salário que muito gringo invejaria?

Me senti um pouco envergonhada por reclamar tanto de coisas tão mesquinhas. Reclamo de barriga cheia, ou melhor, reclamo de barriga empanturrada.

E quando eu vejo esse tipo de coisa penso na minha família.

Quando o meu irmão entrou na faculdade, há 15 anos atrás, a situação lá de casa não era das melhores. Meu irmão foi obrigado a passar em uma Universidade pública, porque os meus pais não tinham cacife para bancar uma mensalidade de um curso de Medicina em uma faculdade particular.

Quando eu cresci a situação lá em casa estava muito melhor. Não tive luxo, mas também não fui privada de coisas que o meu irmão não pôde ter.

Mas lembro com saudades da felicidade que foi quando ele passou. Os primeiros meses foram de sufoco até ele encontrar colegas relativamente confiáveis com quem pudesse rachar o aluguel.

Minha mãe, para ajudar o mano a comprar os livros (que mesmo naquela época eram caríssimos), fazia salgadinhos por encomenda.

Não era propriamente um emprego, mas as encomendas no fim-de-semana surgiam e lá íamos nós, madrugadas adentro. Fornadas e mais fornadas de pasteizinhos, coxinhas, empadas, canapés.

E em nenhuma dessas vezes lembro da minha mãe triste, chorosa. Não vi a minha mãe reclamar uma única vez de como as coisas eram difíceis.

Cada vez que recebia o pagamento pelos salgados minha mãe abria um sorrisão, feliz da vida, pensando no destino do dinheiro. Ela não via o dinheiro na palma da mão dela, ela enxergava o livro, o tênis, o mês de alimentação que ela poderia ajudar o meu pai a bancar.

Talvez não seja politicamente correto, mas presenciar esse tipo de situação me faz inflar de orgulho pela mãe que eu tive.

E me traz a certeza de que, se tudo der errado, juro por Deus que cozinho a barriga no fogão, mas filho meu não vai virar empacotador nem manicure. E se eles não quiserem estudar, já aproveito as formas dos salgadinhos para dar umas boas porradas na cabeça deles até que eles implorem por misericórdia.


Su: parabéns pelo emprego, garota! Que orgulho de você!

C'è un principio di magia...

quarta-feira, 19 de março de 2008



Há um princípio de magia
Entre os obstáculos do coração
Que prende alegremente
Entre uma noite que não morre
E uma noite a ser descartada
Como um pacote de natal.

Há um princípio de ironia
No prender com carinho
Os pensamentos mais secretos
E encontrar os já descobertos
E eu era pra falar
Sou eu que os tenho emprestado

Quanta coisas que
você não sabe de mim
Quanta coisas que
você não pode saber
Quanta coisas a ser trazidas
na viagem
Junto...

Há um princípio de alegria
Entre os obstáculos do coração
Que eu quero merecer
Também enquanto olho o mar
Enquanto deixo naufragar
Um pensamento ridículo

Quanta coisas que
você não sabe de mim
Quanta coisas que
você não pode saber
Quanta coisas a ser trazidas
na viagem
Junto...

Quanta coisas que
você não sabe de mim
Quantas coisas precisa merecer
Quantas coisas lançadas na viagem
Junto...

Há um princípio de energia
Que me faz balançar
Entre meu dizer e o meu fazer
e sentir fazer confusão
Faz confusão ao caminhar
Entre os obstáculos do coração

Quanta coisas que
você não sabe de mim
Quanta coisas que
você não pode saber
Quanta coisas a ser trazidas
na viagem
Junto...

Com certeza foi ironia. E uma das grandes. Há dias eu estava com essa música na cabeça. Sabem como é? Você acorda pensando em uma música e se pega ao longo do dia cantando baixinho?
Parece que sem querer estava predizendo o que estava para acontecer.
Essa manhã recebi o meu presente de Páscoa adiantado, o Consulado me ligou perguntando quando eu posso comparecer lá para dar entrada no passaporte italiano.
É isso aí, meu processo de cidadania foi aprovado. Eles até enviaram uma cartinha, mas como não tem ninguém lá em casa, no interior, nem estava sabendo. Sei que ainda demora um bom tempo para que o passaporte fique pronto, mas a sensação que eu fiquei é de que agora sou livre.

Quando eu desliguei o telefone se passou toda uma vida na minha frente, a minha vida.
Chorei...chorei muito.
Lembrei do início do meu namoro, quando só havia incertezas. Os planos, o desespero por achar que eu teria que cruzar por caminhos tortuosos para pisar na Holanda livre, sem ser uma criminosa. A revolta por ver Maximas que sem esforço algum estavam lá. Ver o esnobismo de brasileiras "legais" casadas com holandeses que só faltavam acender uma fogueira em praça pública para queimar as brasileiras que pensavam em se mudar ilegalmente.
Lembrei dos anos difíceis onde eu e Be nos encontrávamos no máximo 2 vezes por ano, com a grana contada. Os sacrifícios feitos do lado de cá e do lado de lá, mas que no final das contas renderam frutos. A certeza do que queremos, a batalha que travamos diariamente para ficarmos juntos, uma casa em Brecht, um apartamento bem legal aqui e a companhia mais constante um do outro. Algumas coisas mudaram por aqui, coisas que com o tempo eu espero contar. Mudanças ótimas, de verdade. O fato é que Be estará cada vez mais presente aqui na terrinha.
O desespero inicial de achar que ficarmos definitivamente juntos era um sonho distante passou. A presença frequente dele aqui me faz ver que é real, Be é o meu mundo e é por ele que eu luto.
Me dei um prazo, 3 anos. É o tempo para decidirmos definitivamente se eu vou ou ele vem. No auge dos meus 20 e tantos anos, descobri que ainda há muito a sonhar, ainda há muito a viver.
Não há como negar que a distância dói, a saudade as vezes sufoca. Porém, quero focalizar mais no que de positivo veio disso, um relacionamento que pode por vezes balançar, mas no final das contas permanece duro feito rocha. Estou aprendendo a caminhar em vez de correr.
Mas agora eu posso me permitir sonhar. Não é mais um documento que vai fazer a diferença entre ser ou não feliz. Se amanhã eu resolver largar tudo e sair correndo, vou poder.

Muita coisa ainda vai rolar nesse meio tempo, afinal:

" Quante cose da portare
nel viaggio
Insieme..."

E não importa se a sua páscoa vai ser de ovos de coelhos ou de galinhas, desejo que ela seja bem feliz!

Feliz Páscoa!
Joyeuses Pâques!

Abaixo fotinhos de Sint-Niklaas, uma das maiores cidades da região de Flandres, que eu visitei há 3 anos, conhecida pela sua arquitetura rica e pelos monumentos lindíssimos.











Brasilidades

quarta-feira, 12 de março de 2008

Minha afilhada nasceu. Linda, pequenininha e muito, mas muito dengosa. Até que eu não encontre um apelido que tenha a carinha dela, o rebento será denominado nesse blog como a bebê.

Ficamos bastante preocupados quando soubemos que a cunha teria que fazer uma cesárea, mas foi tudo muito tranqüilo.

O corte usado agora é pequeno e bem lá embaixo, feito a laser. Parece que o uso de laser diminui o risco de infecções. Os pontos são internos e absorvíveis, ou seja, não existe mais aquilo de “tirar os pontos”. É o mesmo tipo de ponto usado em cirurgias plásticas. No final das contas, o corte nem parece um corte, mesmo tão poucos dias depois do procedimento. Tem cara de arranhão de gato, sabem como é? Aquele vergão ligeiramente avermelhado. E a tendência é sumir ainda mais, depois de aproximadamente 6 meses ficará apenas uma cicatriz fininha, branquinha e pequenininha bem “pra baixo”. Achei um luxo! É óbvio que, se eu puder, vou optar por parto normal, assim como também era a primeira opção deles. Só que a obstetra observou que, em um intervalo de 15 dias, a bebê não tinha ganhado nem ao menos um grama de peso. Repetiram a eco em outro lugar e confirmaram o resultado. Além disso, fizeram outros exames (que eu sinceramente, nem sei qual é o nome), que deram resultados anormais. Receosos ( e o meu irmão quase tendo um chilique), resolveram fazer a cesárea.

Outro ponto positivo foram os dias de internação: esqueça aquilo que dizem que quando se faz cesárea a mãe tem que morgar dias no hospital. Só para terem uma idéia: cunhada internou na quinta-feira à noite e no sábado à tarde já estava indo para casa com a sua filhotinha, caminhando e bem serena.

E como em casa de ferreiro o espeto é de pau, mesmo tendo um obstetra na família, nunca questionamos nada sobre essas coisas, éramos totalmente leigos no assunto.

A única coisa que já era bem conhecida é a famosa cara-de-pau dos parentes. Na maternidade foi um inferno. Como o meu irmão trabalhou por alguns anos lá, todo mundo o conhecia. Minha cunhada e a bebê não tinham sossego. O quarto era bacana, mais parecia um quarto de hotel, só que as visitas eram liberadas o dia inteiro. Uma coisa totalmente sem noção! Tinha visita que chegava lá e se abancava de tal forma que uma hora, quando me dei conta, tinham quase 10 cadeiras no quarto, todas ocupadas. O povo ficava lá, tagarelando, pensando que estava em uma festa, e a cunha e a bebê no meio, tontas e cansadas.

Será que essas pessoas não se dão conta da tremenda falta de respeito que mostram? Não, o calvário foi ainda maior.

No sábado à tarde, na saída do hospital, o meu irmão convidou a irmã da minha cunhada e o namorado da dita para almoçar no domingo. Meu pai faria um churrasquinho, só para a família, e a minha mãe, prepararia uma boa panela de caldo de galinha caipira para a cunhada. Uma coisa bem íntima, até porque o meu irmão, nessa loucura toda de cesárea de urgência, nem teve tempo para trocar os plantões, então, quem mais uma vez bondosamente veio para cá tomar conta da situação foram os meus pais (já que os pais da cunha morreram em um acidente de carro quando ela ainda era criança).

Eu não sei se sou muito otária ou de repente intransigente demais com algumas coisas. Mas, na minha cabeça, quando você é relativamente “da família” (a moça é irmã da minha cunhada), você tem que ter aquele espírito de cooperação. Você chega cedo, você pede para os anfitriões se precisam de ajuda e aquilo tudo. Você sabe que tem uma mãe e um bebê “novinhos” na casa, você se solidariza e tenta, da melhor maneira, fazer com que eles fiquem tranqüilos.

Só que a “moça” em questão, não só chegou ao meio-dia, nos deixando com a sensação de que ela pensava estar em um restaurante como, ainda por cima, além do namorado, carregou com ela mais 3 amigas. Achei o fim da picada. Sei que essa implicância minha também é pessoal. Tenho verdadeiro pavor dessa garota, tudo o que a cunha tem de humilde e generosa, ela tem de idiota e arrogante. É do tipo espaçoso, que chega falando alto, impondo presença e espalhando os seus tentáculos pelo ambiente. Se acha o máximo, só ela quem sabe das coisas, só a opinião dela que importa. Já conversei com mamis sobre ela. Fiquei até com remorso, acho que mamis tem razão quando diz que eu preciso entender que ela foi criada sem pais e que isso é muito triste. Mas não entendo como a cunha, criada da mesma forma que ela, possa ser tão diferente. Talvez esse jeitinho da irmã da cunha seja exatamente isso, uma tentativa de chamar a atenção, carência mesmo, aliada à falta de pais que pudessem ensinar o que é certo e errado. Enfim, não quero pensar nisso agora porque eu quero ter raiva dela e não pena, hahaha.

Os dias passaram. Meu pai voltou para o interior e a mamis continua na casa do meu irmão. E vou dizer uma coisa, não é porque a mãe é minha, mas ela é muito, muito fofa. Ajuda a cunha com a bebê, faz comida, dá colo para a cunha também, organiza as coisas, limpa a casa quando precisa, dá aquelas dicas geniais de “mãe velha” que valem ouro, ela é o máximo.

Tudo estava transcorrendo muito bem até no último sábado à noite. Resolvemos fazer uma noite de pizza. Mano cozinha bem demais, faz umas pizzas maravilhosas, ele mesmo prepara a massa, uma delícia. Ia ser uma coisinha bem particular, só mano, cunha, a bebê, mamis e eu. Só que mais uma vez os nossos planos estavam fadados ao fracasso. Não fazia 10 minutos que eu tinha entrado pela porta, o porteiro eletrônico tocou. Eram visitas. Nem preciso dizer quem era. A irmã da cunha e o namorado, acompanhados de mais 6 pessoas.

Chegaram à noite, quase no horário da janta, sem nem ao menos dar um telefonema dizendo que viriam.

Minha mãe e eu só tivemos aquela troca de olhares que vale mais que mil palavras.

Mamis fez cara feia e só resmungou pra mim um: “ah, hoje não”. Sentamos-nos no jardim com um copo generoso de caipira e ficamos na espreita, vendo no quê aquilo ia dar. Passou uma hora, passou duas e nada das visitas irem embora. Aí por 10 da noite, mamis e eu, bêbadas, só nos olhamos quase chorando porque tivemos a certeza de que aquela gentalha não iria embora antes de “filar a bóia”. Resignadas, fomos pra cozinha preparar qualquer coisa para eles comerem. Na boa, se não fosse pelo fato de que gente inocente (leia-se mano e cunha) fosse comer, eu teria cuspido na comida, tamanha a raiva que sentia.

Conheço o meu irmão o suficiente para saber que ele também estava incomodado com a situação, ficou o tempo todo tristonho e meio cabisbaixo. Cunha, aparentemente bloqueada para a cara-de-pau daquela gente, apesar de irritada porque a bebê passava de mão em mão como cuia de chimarrão, foi incapaz de falar. Acho que rola aquele sentimento de ser a irmã mais velha, de ter pena da outra. Isso a faz cega para podar a irmã ( o que na minha opinião é um erro, porque se aquela “moça” tivesse levado uns bons safanões não teria se tornado a aberração que é hoje). A bebê choramingava irritada e o pessoal nem aí pra nada.

O auge da minha ira foi quando até os brincos que eu dei para a bebê viraram motivo de críticas por parte da “moça”. Com a bebê no colo e fingindo que conversava com ela, dizia coisas como: “Mas que brinco grande, é quase maior que a bebê”, coisas desse tipo. Depois disso, todo o esforço que eu tinha feito para deixar de lado a minha cara de quem chupou limão foi por água abaixo.

Juro por Deus que eu até tentei parecer espontânea e natural, mas eu simplesmente não consigo. Eu tenho um bloqueio, quando eu estou chateada com algo, não consigo esconder. Não consigo engolir o sapo e fingir que está tudo bem. Simplesmente não consigo!

A cara-de-pau é tanta que foi só terminar de jantar para que eles levantassem acampamento. Mamis, mano e eu estávamos tão furiosos que, na boa, se eu soubesse que eles só estavam lá pela comida, teria feito a janta 3 horas antes só para nos livrarmos deles.

Depois dessa overdose de encheção de saco cheguei a conclusão de que não existe nada melhor do que o sistema holandês: as pessoas ligando antes para marcar o dia em que visitarão a família, um carregamento de “beschuit met muisjes”, um balde de café e era isso.

Quando contei para Be o que tinha acontecido, ele ficou horrorizado. Ele não entende como as pessoas podem ser tão mal-educadas. E compreendeu menos ainda o porquê da gente não ter dito nada se ficamos tão incomodados. Que Deus abençoe a sinceridade holandesa!

Até mais.

ps: a sogra está relativamente bem. Tivemos dias tão sofridos por conta do tratamento dela que fiquei traumatizada. Um dia eu conto tudo o que aconteceu, ou pelo menos tentarei.

Maneiras

sexta-feira, 7 de março de 2008

"Se eu quiser fumar eu fumo, se eu quiser beber eu bebo
Eu pago tudo que eu consumo com o suor do meu emprego
Confusão eu não arrumo, mas também não peço arrego
Eu um dia me aprumo, pois tenho fé no meu apego
Eu só posso ter chamego, com quem me faz cafuné
Como o vampiro e o morcego é o homem e a mulher
O meu linguajar é nato, eu não estou falando grego
Eu tenho amores e amigos de fato,
Nos lugares onde eu chego
Eu estou descontraído, não que eu tivesse bebido
Nem que eu tivesse fumado pra falar de vida alheia
Mas digo sinceramente, na vida, a coisa mais feia
É gente que vive chorando de barriga cheia"


Com essa música cantada por Zeca Pagodinho talvez esteja selando a minha volta ao mundo bloguístico.
Digo talvez porque ainda não tenho certeza se é uma volta de verdade.
Tantas coisas para falar, tantas coisas para compartilhar, e sabem o quê? só de sentar a bunda na frente do pc eu fico meio sem vontade. Não de contar, porque eu acredito realmente que a minha pausa por aqui tenha arrancado saudades sinceras em algumas pessoas. E se for em pelo menos uma única pessoa já acredito que tenha valido a pena.
A questão foram as circunstâncias em que isso tudo se passou.
Vou fazer um pequeno flashback. Por favor, me desculpem os menos interessados no meu monólogo tedioso, mas eu preciso disso. Aliás, daqui para frente será assim: mais "eu" e menos "os outros".
Depois de um tempo na blogosfera as pessoas costumam sentar e dar uma olhada nos seus posts passados. A maioria das pessoas olha para trás e tira conclusões do quanto amadureceu, do quanto melhorou, se dá conta de que os problemas passados ficaram no passado e aquela coisa toda.
É triste afirmar isso, mas quando eu fiz isso nesse blog eu fiquei tremendamente decepcionada comigo mesma.
O meu primeiríssimo post falava sobre esse blog ser para mim, para meus relatos, sobre a minha vida. Quando eu olhei esse post eu tomei um choque. Fiquei desanimada por me dar conta de que a grande maioria dos posts estava recheada de minhas experiências, mas tinham doses enormes de explicações para os leitores sobre as minhas atitudes, sobre a minha vida.
Algo estava errado, não estava? Cadê aquela expectativa inicial sobre contar os meus relatos, sobre ser o meu blog? Esse blog acabou se tornando o blog para explicar as minhas atitudes.
A bola de neve foi aumentando a cada dia, não sem antes eu concluir o quanto algumas coisas aqui me faziam mal. A Agridoce não estava gastando o curto tempo que ela tinha na frente do pc para algo saudável, ela estava ingressando por caminhos cada vez mais tortuosos sobre o quanto é difícil não conseguirmos agradar a todos, sobre o quanto críticas maldosas alheias são capazes de ferir, de magoar. Não digo que eu sou santa, longe de mim. Acho inclusive que uma boa parcela sobre tudo que se passou na minha vida aqui na blogosfera seja realmente culpa minha. Culpada por não ser capaz de olhar algumas coisas que me desagradavam ou me magoavam e simplesmente rir. Naquele momento eu não era capaz daquilo, as críticas, as fofocas, magoavam sim. E a Agridoce, aquela que queria apenas relatar suas experiências, acabou se tornando a Agridoce que se defendia do veneno alheio e usava o seu próprio veneno para magoar também.
Não tardou para que, ao invés de usar o blog para compartilhar experiências, eu precisasse dar explicações sobre as minhas escolhas. Peraí? dar explicações para quem eu nem conheço? Algo estava errado, não estava?
Para finalizar, gradualmente, eu comecei a sentir, não necessariamente na pele, mas estava envolvida, com pessoas que se diziam amigas, pessoas que deixavam em blogs alheios, comentários cheios de apoio, comentários ensolarados. Mas bastava virar as costas, essas mesmas pessoas deixavam escorregar a máscara e mostravam a verdadeira face, que acreditem, não era nada bonita.
Por um tempo eu fiquei calada, apesar de magoada com a situação ficava na minha. Até que a dúvida veio por fim me atormentar. Que garantias eu tinha de que essas mesmas pessoas não estavam fazendo isso comigo também?
Enfim, saturou.
Por diversas vezes eu pensei em vir aqui e contar sobre o que estava se passando na minha vida. Sobre a doença da minha sogra, sobre a forma que Be quase me enlouqueceu e por pouco não houve uma separação, sobre as mudanças em minha vida profissional, sobre o quanto eu ando sobrecarregada, sobre as minhas férias maravilhosas depois da tormenta, sobre a minha afilhada que nasceu. Tanta coisa, mas tanta coisa mesmo, que tenho certeza que dariam relatos interessantes.
Mas sabem o quê? Toda vez que eu tinha um problema eu corria para o telefone ou para a casa de alguma amiga. Contava para a minha mãe, que estava sempre pronta a me aconselhar, com boas doses de cafuné no cabelo e com incontáveis taças de sorvete. Ou para alguma amiga, em noites memoráveis repletas de bom vinho, cerveja e até alguns cigarros. Pessoas que eu podia olhar nos olhos, que eu sabia que apenas iam me ouvir e me aconselhar. Pessoas para as quais não precisava me explicar.
E no final ainda tinha o Be, que mesmo entre "tapas e beijos" e "trancos e barrancos" estava lá, presente. Alguém tão formidável que não usaria as coisas que eu falava para fazer fofocas para os outros. Alguém que, mesmo sendo duro quando usa palavras para mostrar a melhor saida, era capaz de me fazer estremecer inteira com noites e mais noites fazendo amor.
Alguém aqui seria capaz disso? hahaha (desculpem a gargalhada)
Entendam uma coisa: não estou generalizando, porque tem muitas pessoas por aqui que me conquistaram, que me fizeram acreditar que amizade a distância é tão possível quanto amor a distância. A maioria das pessoas que eu encontrei aqui foram assim. Mas, nesse meu passado recente, eram aquelas poucas maçãs podres que me faziam tão relutante em voltar.
Em nenhum momento eu deixei de acompanhar os blogs das pessoas que eu tanto gosto. Não deixava comentários, lia quietinha, mas mandava boas doses de pensamentos positivos, me alegrava com a felicidade dessas pessoas ou incluía o nome dessas amigas na minha já extensa, listinha de preces. Por diversas vezes os dedinhos coçaram, mas eu pensava duas vezes e desistia de comentar. Por medo, por saber que os problemas dessas pessoas não se resolveriam com poucas palavras escritas por mim. Pode ser uma visão até bem pessimista, isso de pensar que não fazemos diferença, mas eu estou um pouco assim ultimamente.
Não quero dar opiniões na vida dos outros, não quero interferir ou ser aquela pessoa que obriga os outros a terem que explicar as suas escolhas. Não quero isso para os outros porque não quero isso na minha vida também.
Um pouco confuso, contraditório e até mesmo egoísta isso que eu falei? Pode até ser, mas é que eu ando assim, é como eu falei anteriormente, mais "eu" e menos "os outros".
Por que ter um blog então? Ainda não sei ao certo, talvez pela praticidade, talvez por aquela questão de massagem no ego de querer que alguém leia o que eu escrevi. Não sei. E estou satisfeita assim, sem saber ao certo. E se um "não sei" basta para mim, ele que seja suficiente para os outros também.
Tenho tantos relatos que quero fazer desse meu período de "férias". Acho que eles virão. Talvez bem poucas pessoas ainda passem por aqui. Mas eu não me importo. Se está bom para mim assim, isso que importa. Afinal, esse blog está oficialmente reaberto como sendo o MEU blog. Meu e de mais ninguém.
Agora deixa eu ir lá, que hoje é sexta-feira e "se eu quiser fumar eu fumo, se eu quiser beber eu bebo"
Até outro dia.

 
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