Brasilidades

quarta-feira, 12 de março de 2008

Minha afilhada nasceu. Linda, pequenininha e muito, mas muito dengosa. Até que eu não encontre um apelido que tenha a carinha dela, o rebento será denominado nesse blog como a bebê.

Ficamos bastante preocupados quando soubemos que a cunha teria que fazer uma cesárea, mas foi tudo muito tranqüilo.

O corte usado agora é pequeno e bem lá embaixo, feito a laser. Parece que o uso de laser diminui o risco de infecções. Os pontos são internos e absorvíveis, ou seja, não existe mais aquilo de “tirar os pontos”. É o mesmo tipo de ponto usado em cirurgias plásticas. No final das contas, o corte nem parece um corte, mesmo tão poucos dias depois do procedimento. Tem cara de arranhão de gato, sabem como é? Aquele vergão ligeiramente avermelhado. E a tendência é sumir ainda mais, depois de aproximadamente 6 meses ficará apenas uma cicatriz fininha, branquinha e pequenininha bem “pra baixo”. Achei um luxo! É óbvio que, se eu puder, vou optar por parto normal, assim como também era a primeira opção deles. Só que a obstetra observou que, em um intervalo de 15 dias, a bebê não tinha ganhado nem ao menos um grama de peso. Repetiram a eco em outro lugar e confirmaram o resultado. Além disso, fizeram outros exames (que eu sinceramente, nem sei qual é o nome), que deram resultados anormais. Receosos ( e o meu irmão quase tendo um chilique), resolveram fazer a cesárea.

Outro ponto positivo foram os dias de internação: esqueça aquilo que dizem que quando se faz cesárea a mãe tem que morgar dias no hospital. Só para terem uma idéia: cunhada internou na quinta-feira à noite e no sábado à tarde já estava indo para casa com a sua filhotinha, caminhando e bem serena.

E como em casa de ferreiro o espeto é de pau, mesmo tendo um obstetra na família, nunca questionamos nada sobre essas coisas, éramos totalmente leigos no assunto.

A única coisa que já era bem conhecida é a famosa cara-de-pau dos parentes. Na maternidade foi um inferno. Como o meu irmão trabalhou por alguns anos lá, todo mundo o conhecia. Minha cunhada e a bebê não tinham sossego. O quarto era bacana, mais parecia um quarto de hotel, só que as visitas eram liberadas o dia inteiro. Uma coisa totalmente sem noção! Tinha visita que chegava lá e se abancava de tal forma que uma hora, quando me dei conta, tinham quase 10 cadeiras no quarto, todas ocupadas. O povo ficava lá, tagarelando, pensando que estava em uma festa, e a cunha e a bebê no meio, tontas e cansadas.

Será que essas pessoas não se dão conta da tremenda falta de respeito que mostram? Não, o calvário foi ainda maior.

No sábado à tarde, na saída do hospital, o meu irmão convidou a irmã da minha cunhada e o namorado da dita para almoçar no domingo. Meu pai faria um churrasquinho, só para a família, e a minha mãe, prepararia uma boa panela de caldo de galinha caipira para a cunhada. Uma coisa bem íntima, até porque o meu irmão, nessa loucura toda de cesárea de urgência, nem teve tempo para trocar os plantões, então, quem mais uma vez bondosamente veio para cá tomar conta da situação foram os meus pais (já que os pais da cunha morreram em um acidente de carro quando ela ainda era criança).

Eu não sei se sou muito otária ou de repente intransigente demais com algumas coisas. Mas, na minha cabeça, quando você é relativamente “da família” (a moça é irmã da minha cunhada), você tem que ter aquele espírito de cooperação. Você chega cedo, você pede para os anfitriões se precisam de ajuda e aquilo tudo. Você sabe que tem uma mãe e um bebê “novinhos” na casa, você se solidariza e tenta, da melhor maneira, fazer com que eles fiquem tranqüilos.

Só que a “moça” em questão, não só chegou ao meio-dia, nos deixando com a sensação de que ela pensava estar em um restaurante como, ainda por cima, além do namorado, carregou com ela mais 3 amigas. Achei o fim da picada. Sei que essa implicância minha também é pessoal. Tenho verdadeiro pavor dessa garota, tudo o que a cunha tem de humilde e generosa, ela tem de idiota e arrogante. É do tipo espaçoso, que chega falando alto, impondo presença e espalhando os seus tentáculos pelo ambiente. Se acha o máximo, só ela quem sabe das coisas, só a opinião dela que importa. Já conversei com mamis sobre ela. Fiquei até com remorso, acho que mamis tem razão quando diz que eu preciso entender que ela foi criada sem pais e que isso é muito triste. Mas não entendo como a cunha, criada da mesma forma que ela, possa ser tão diferente. Talvez esse jeitinho da irmã da cunha seja exatamente isso, uma tentativa de chamar a atenção, carência mesmo, aliada à falta de pais que pudessem ensinar o que é certo e errado. Enfim, não quero pensar nisso agora porque eu quero ter raiva dela e não pena, hahaha.

Os dias passaram. Meu pai voltou para o interior e a mamis continua na casa do meu irmão. E vou dizer uma coisa, não é porque a mãe é minha, mas ela é muito, muito fofa. Ajuda a cunha com a bebê, faz comida, dá colo para a cunha também, organiza as coisas, limpa a casa quando precisa, dá aquelas dicas geniais de “mãe velha” que valem ouro, ela é o máximo.

Tudo estava transcorrendo muito bem até no último sábado à noite. Resolvemos fazer uma noite de pizza. Mano cozinha bem demais, faz umas pizzas maravilhosas, ele mesmo prepara a massa, uma delícia. Ia ser uma coisinha bem particular, só mano, cunha, a bebê, mamis e eu. Só que mais uma vez os nossos planos estavam fadados ao fracasso. Não fazia 10 minutos que eu tinha entrado pela porta, o porteiro eletrônico tocou. Eram visitas. Nem preciso dizer quem era. A irmã da cunha e o namorado, acompanhados de mais 6 pessoas.

Chegaram à noite, quase no horário da janta, sem nem ao menos dar um telefonema dizendo que viriam.

Minha mãe e eu só tivemos aquela troca de olhares que vale mais que mil palavras.

Mamis fez cara feia e só resmungou pra mim um: “ah, hoje não”. Sentamos-nos no jardim com um copo generoso de caipira e ficamos na espreita, vendo no quê aquilo ia dar. Passou uma hora, passou duas e nada das visitas irem embora. Aí por 10 da noite, mamis e eu, bêbadas, só nos olhamos quase chorando porque tivemos a certeza de que aquela gentalha não iria embora antes de “filar a bóia”. Resignadas, fomos pra cozinha preparar qualquer coisa para eles comerem. Na boa, se não fosse pelo fato de que gente inocente (leia-se mano e cunha) fosse comer, eu teria cuspido na comida, tamanha a raiva que sentia.

Conheço o meu irmão o suficiente para saber que ele também estava incomodado com a situação, ficou o tempo todo tristonho e meio cabisbaixo. Cunha, aparentemente bloqueada para a cara-de-pau daquela gente, apesar de irritada porque a bebê passava de mão em mão como cuia de chimarrão, foi incapaz de falar. Acho que rola aquele sentimento de ser a irmã mais velha, de ter pena da outra. Isso a faz cega para podar a irmã ( o que na minha opinião é um erro, porque se aquela “moça” tivesse levado uns bons safanões não teria se tornado a aberração que é hoje). A bebê choramingava irritada e o pessoal nem aí pra nada.

O auge da minha ira foi quando até os brincos que eu dei para a bebê viraram motivo de críticas por parte da “moça”. Com a bebê no colo e fingindo que conversava com ela, dizia coisas como: “Mas que brinco grande, é quase maior que a bebê”, coisas desse tipo. Depois disso, todo o esforço que eu tinha feito para deixar de lado a minha cara de quem chupou limão foi por água abaixo.

Juro por Deus que eu até tentei parecer espontânea e natural, mas eu simplesmente não consigo. Eu tenho um bloqueio, quando eu estou chateada com algo, não consigo esconder. Não consigo engolir o sapo e fingir que está tudo bem. Simplesmente não consigo!

A cara-de-pau é tanta que foi só terminar de jantar para que eles levantassem acampamento. Mamis, mano e eu estávamos tão furiosos que, na boa, se eu soubesse que eles só estavam lá pela comida, teria feito a janta 3 horas antes só para nos livrarmos deles.

Depois dessa overdose de encheção de saco cheguei a conclusão de que não existe nada melhor do que o sistema holandês: as pessoas ligando antes para marcar o dia em que visitarão a família, um carregamento de “beschuit met muisjes”, um balde de café e era isso.

Quando contei para Be o que tinha acontecido, ele ficou horrorizado. Ele não entende como as pessoas podem ser tão mal-educadas. E compreendeu menos ainda o porquê da gente não ter dito nada se ficamos tão incomodados. Que Deus abençoe a sinceridade holandesa!

Até mais.

ps: a sogra está relativamente bem. Tivemos dias tão sofridos por conta do tratamento dela que fiquei traumatizada. Um dia eu conto tudo o que aconteceu, ou pelo menos tentarei.

 
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