Cenas da vida doméstica

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Paguei aluguel por muito tempo. Meu último apartamento alugado foi se transformando em uma coisa horrorosa, tudo caindo, mal arrumado, o proprietário não estava nem aí pro imóvel e aos poucos ele acabou virando um verdadeiro pardieiro.

Todos os meses era sagrado, no dia do pagamento quase toda a grana ia para algum investimento bacana, que rendesse um extra bom e lá ia eu continuando a morar no mesmo lugar horroroso. Vendi um terreninho herdado do meu avô para colaborar e, quando dei por mim, já tinha uma boa grana para comprar o apartamento. Não toda a grana, mas uma boa quantia.

O fato é que eu poderia ter mais. Alguns meses antes da compra, por conta de uns rolos familiares com a empresa do Be (que é melhor eu nem comentar para o meu nível de estresse se manter em um ponto razoável), tive que usar boa parte do dinheiro nisso. Nunca reclamei, pelo menos não na frente dele, mesmo que por diversas vezes eu tenha usado adjetivos bem baixos para me referir ao irmão dele quando Be não estava por perto.

Só que a situação foi ficando meio chata. Toda vez que eu falava sobre comprarmos um apartamento ouvia desculpas, umas bem fundamentadas (pra que um apartamento, se em pouco tempo você vai se mudar?) e outras nem tanto. Um apartamento era o que eu mais sonhava, imóvel é investimento, mas não queria um apartamento qualquer, queria um que pudesse fechar as portas, me mudar para a Bélgica e, toda vez que viéssemos para cá, ele estaria aqui, bonitão, só esperando por nós. Queria um lugar confortável, que pudesse nos acolher bem na nossa velhice, um lugar grande, com quarto para visitas e para os filhos que eu espero um dia ter.

Comecei a buscar o apartamento sozinha, só que toda vez que eu achava um razoavelmente decente, Be não gostava, ou fingia não gostar.

Até que eu tive um verdadeiro chilique quando encontrei esse aqui, sabia que não encontraria um lugar tão legal com o que estávamos dispostos a pagar. O chilique funcionou, em poucos meses já estava morando aqui, bem feliz.

Gosto daqui, a estrutura do apartamento é legal, é grande, o prédio é bacana, tem playground, piscina, salão de festas com churrasqueira, forno de pedra para fazer pizza, portaria 24 horas, duas vagas na garagem, essas coisas. Não é prédio de bacana, de madame que passa o dia na beira da piscina sem fazer nada, é um prédio de idosos e de casais e famílias que passam o dia inteiro na batente. Tem advogados, médico, promotor de justiça, aposentados, um clima bem familiar.

Só que quando viemos para cá a grana estava muito curta, quase todos os móveis que eu tinha no pardieiro vieram junto. Ganhei algumas coisas dos meus pais, o nosso quarto é novo e bacana, mas é só. Cozinha é do estilo Casas Bahia, na sala de estar tenho sofá e tv, e era isso. Muito espaço vazio (algumas peças inclusive não tem nada) para poucos móveis, e assim vamos levando.

Desde a compra do apartamento a prioridade tem sido terminar de pagá-lo e juntar grana para deixá-lo do jeito que eu queria.

Só que no ano passado tudo acabou desmoronando. Todas as economias que nós tínhamos foram usadas para pagar o hospital da moeder, raspamos todo o dinheiro que tínhamos e ainda estamos devendo uma grana pro hospital.

Nunca reclamei porque sei que apesar de não estar casada, eu vivo em um casamento e, em casamentos, você está junto pra tudo, não só para as situações boas.

Mas acho que uma das principais coisas do casamento é a compreensão.

E as vezes sinto que Be fica em débito comigo quanto a isso.

Vamos ao novo fato:

Cansei de pegar ônibus. Cansei de ter que ir para a parada de ônibus todos os dias quando o sol quase nem nasceu. Cansei de tomar chuva, ficar no frio. Cansei de voltar para casa carregada de sacolas.

Entendo que o momento é de economizar, mas que economia é essa? Se eu não posso ter um carro então ele também não pode.

Para ele é muito simples, todas as vezes que está aqui meu irmão empresta o carro da minha cunhada por meses a fio para usarmos. Be não sabe o que é pegar ônibus nem aqui, nem lá. Quando não podemos ter o carro, Be aluga um, o bonitinho não anda de ônibus não!

Não acho justo. O papo de deixarmos para o fim do ano não cola mais comigo. Estou muito chateada com essa situação. Desde ontem a noite, quando voltamos do interior, Be não fala direito comigo, faz cara de cão sem dono, como se eu tivesse espancado ele com o jornal sem merecer.

Fala sério. Fala seríssimo.

As coisas estão muito claras para mim, alguém aqui vai ter que ceder, e, dessa vez, não serei eu.

Juro por Deus, esse egoísmo dele me cansa. Me cansa demais.

O fim-de-semana poderia ter sido legal demais. Meu pai achou que estava abafando quando veio mostrar para a gente a proposta que um amigo dono de uma concessionária fez por um Ka. O carro é lindo, confortável, o modelo novo está uma graça, me empolguei, me empolguei de verdade. Até virar o rosto e ver a cara de bunda que Be fazia. Aquilo acabou com o meu fim-de-semana.

Não consigo entender como esse tipo de injustiça passe despercebido por ele. Como ele pode esperar que, depois de tudo que eu fiz pela mãe dele, guardemos dinheiro para terminar de pagar o hospital, abrindo mão mais uma vez do que eu quero. Como ele pode esperar que eu não me irrite com o fato de que os irmãos dele sejam os mais caras-de-pau, e nem ao menos se ofereçam para rachar o que falta da conta.

Não houve brigas, estamos em Guerra Fria.

Só peço a Deus serenidade, porque me conheço e, se eu abrir a boca em uma discussão, a coisa não vai ser bonita, a casa vai cair!

Um começo de semana cheio de paz e serenidade a todos, que é o que não estou conseguindo encontrar nesse momento.

ps: O batizado foi lindo demais, depois eu coloco foto do vestido da Denga. Ela ama tomar banho, quando o padre molhou a cabecinha dela, ao contrário dos outros bebês que choravam, ela começou a rir muito. Achamos que ela pensou que iria ganhar um banho, por isso ficou toda feliz, um amor. Preciso usar todo o meu auto-controle porque quase todo o tempo eu tenho vontade de apertar ela demais! Claro que não podiam faltar os comentários infelizes da irmã da cunha. Para a alegria de todos, logo após o almoço ela se mandou.

Denga ganhou um monte de presentes. No sábado pela manhã não consegui me controlar, comprei duas bonecas de pano tão lindas para ela. Adoro bonecas de pano, elas são tão delicadas e lindas, simples, mas tão mimosas...


 
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